Nos últimos tempos temos visto uma explosão de notícias falando sobre ESG e muitos profissionais de Compliance surfando essa nova “onda”. Isso significa que um processo ESG robusto implementado nas organizações irá substituir o Compliance de alguma maneira?  

A principal missão do Compliance é garantir que os funcionários cumpram as leis e as normas internas, bem como que respeitem os controles internos de modo a evitar a ocorrência de desvios de conduta e fraudes ocupacionais, criando ainda mecanismos para detectá-los e para responder a estes.

Em última análise, o Compliance é um mecanismo que se destina a repreender violações por meio do monitoramento e imposição de sanções em um ambiente quase disciplinar quando essas são detectadas. É normal, portanto, que o Compliance seja mais temido do que celebrado.

Em contraste, o processo ESG convoca um conjunto muito diferente de forças pois está enraizado em compromissos voluntários que as organizações podem redefinir constantemente e como se baseia numa avaliação de materialidade que passa pela interação com diferentes partes interessadas sua fonte de informação é muito mais ampla e criativa do que as normas em si, empregando uma abordagem não confrontadora.

Por vezes, mesmo no Compliance, autoridades e organismos reguladores são vistos como antagonistas da organização enquanto no processo ESG eles passam a ser aliados.

Como no caso do ESG muitas das questões levantadas na matriz de materialidade não implicam violações legais, os Sistemas de Compliance podem não estar projetados para registrá-las, muito menos para persegui-las ativamente até que se transformem em uma conduta imprópria genuína. 

Aliás, essa diferença entre as abordagens de Compliance e ESG pode ajudar a explicar por que várias empresas atingidas por desvios de conduta e falhas de conformidade recorrem a processos ESG em um esforço para evitar a repetição dos mesmos erros. Enquanto o Compliance examina o passado, buscando sancionar erros, o processo ESG olha para o futuro, ajudando a empresa a evoluir.

Em resumo, onde o Compliance visa sancionar e dissuadir condutas e aperfeiçoar processos, o ESG busca reconciliar e inspirar. 

Isso não significa que o ESG vai acabar com o Compliance. Muito pelo contrário. Trata-se de uma ferramenta de gestão de riscos que irá complementar os mecanismos de Compliance, que por sua vez nada mais é que um mecanismo que integra boas práticas de Governança, Gestão de Riscos e Controles Internos.

De todo modo, é fundamental que os responsáveis pela função Compliance revejam suas abordagens para não serem mal vistos nessa nova era do ESG, na qual o diálogo é muito mais celebrado do que qualquer conflito.

A pergunta é, as empresas estão preparadas para instaurar um processo ESG robusto ou irão aguardar por uma imposição legal e/ou do mercado, que, aliás, já vem ocorrendo?

E mais, as estruturas de Compliance estão preparadas para se adaptar a essa nova realidade?

      

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